O ano de 1948 alterou perpetuamente o panorama do serviço de transportes públicos na cidade do Porto.
O carro elétrico protagonizara até então um inegável desenvolvimento social e económico associado às crescentes deslocações de passageiros, como tal um transporte reconhecido também como local de sociabilidade. O seu “reinado de exclusividade” terminaria com o aparecimento das camionetas da concorrência, ainda nos anos vinte, que, para além de mercadorias, iniciaram o transporte de passageiros de e para os limites interiores da cidade. Este fenómeno, que mereceu a conivência da Câmara Municipal, acarretou uma controvérsia com a circulação dos elétricos, reduzindo a sua flexibilidade e número de utilizadores.
Mesmo com a razão do seu lado, a Companhia Carris de Ferro do Porto registou avultados prejuízos e a sua Administração, em 1933, via-se obrigada a reconhecer: «… que o 1º “Estabelecimento” (Carros, Central, Subestações e Linhas) foi completamente derrotado (…) sendo necessário prover à sua substituição na sua totalidade…»[1].
Findos 13 anos, era a vez da Câmara Municipal do Porto passar a intervir diretamente na gestão dos transportes públicos do Porto, por resgate da concessão à CCFP em 1946, elaborando um plano centrado na aquisição de autocarros.
Os primeiros veículos, da marca “Daimler”, inauguraram a carreira C (Aliados – Carvalhido) em pleno dia 1 de abril de 1948, evento que mereceu a atenção da imprensa diária na região.
Mesmo com a introdução em 1951 de um novo protótipo de carro elétrico, o S-500, o autocarro, enquanto principal meio de transporte operado pela atual STCP rapidamente se notabilizou na cidade.
[1] in STCP – 50 Anos do Autocarro 1948-1998. Porto. STCP S.A., 1998
Não posso deixar de partilhar convosco um comentário que um nosso colaborador, conhecedor do assunto, nos enviou:
“Existem algumas peripécias, relacionadas com os autocarros, … A mais interessante (e hilariante) é acerca da dificuldade que os “Daimler” tinham em subir a rampa da Rua de Camões (entre a Trindade e Gonçalo Cristóvão), que fazia parte do itinerário da carreira “C”. Segundo aquilo que me foi transmitido por pessoal tripulante há muito aposentado (que conheci em 1993/ 1994), os motoristas e cobradores mais velhos contavam-lhes que a meio da rampa supra referida, os “Daimler” paravam, ao ponto de os cobradores terem de pedir aos passageiros para abandonarem o veículo, para este recuar, ganhar lanço e vencer o declive, voltando a receber os utentes junto do cruzamento de Gonçalo Cristóvão. Enfim, bons e velhos tempos… “